quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cada macaco no seu galho

Fala, galera.

Esse post será dedicado a algo que, apesar de uma certa ligação mínima, foge um pouco do foco principal do blog.


Fora do Brasil, sem muita notícia do que se passa pela minha terra, tenho acompanhado via emails a campanha política bombando aí. Papai começou a me enviar links, manchetes, comentários, enfim, notícias de como as coisas andam, de forma que eu tenho uma noção.

Antes de começar, preciso deixar uma coisa clara: Papai é petista, eu um dia fui.

Então todo dia recebo notícias de que Lula fez isso, Dilma fez aquilo, Folha isso, Globo aquilo, Luis Nassif, Paulo Henrique Amorin... E eu vou me inteirando do que se passa.

Tem um ditado que diz: “Política não se discute.” Apesar de não concordar muito com ele, não rola discussão via email, então eu ia lendo os emails do meu pai sem emitir opinião, para me inteirar, somente. Até que recebi um em especial.

Antes dele, um desabafo...

Eu sempre detestei jornalista metido à economista. Nada contra jornalistas, (o meu amigo de “infância”, se Deus quiser, será um excelente jornalista!) mas há uma série de aspectos em Economia que uma carreira ligada à área de humanas, como o Jornalismo, não engloba.

Muitos vão dizer: “Ah, mas Economia é uma Ciência Social”. Concordo. Porém, faço uma pequena observação: é uma Ciência Social aplicada”. Não vou nem entrar no mérito de se Economia é uma Ciência isenta de valores por usar métodos estatísticos e matemáticos, mas há muito que Economia vem sendo tratada mais matematicamente, e isso passa longe das grades de Jornalismo, Ciências Políticas, Sociologia, História, Filosofia, enfim...

Mas isso (e agora como estudante de economia vaidoso) é o preço que se paga pela importância da Ciência que eu estudo e os seus reflexos em quase (quase, só?) todos os aspectos da sociedade. Ninguém, sem a mesma carga de estudos de um PhD em Física, contesta o que ele diz sobre Física, mas de PhD em Economia e técnico de futebol, todo mundo tem um pouco, e se sente apto a palpitar na convocação para Copa e na elaboração de um plano de combate à inflação...

Agora vamos ao texto da discórdia. Eis aqui parte dele:

"A instrumentalização errada do Plano Real


No artigo deste domingo, FHC parte de uma avaliação correta: “época de campanha eleitoral é propícia à demagogia”. Contudo, o estilo vaidoso do ex-sociólogo lhe prega aqui uma peça: procurando apontar uma suposta demagogia nos discursos do presidente Lula e do PT, FHC fala de si mesmo ao longo de todo o artigo, exercitando a tal “demagogia” que ele procura incansavelmente no atual governo. Afinal de contas, o que o ex-presidente quer fazer acreditar é que os êxitos alcançados no governo Lula foram herança do período em que ele – FHC – estava à frente da Presidência.

Para isso, o ex-sociólogo lança mão de uma análise superficial sobre o Plano Real: “os mais destacados economistas do PT daquela época, Maria da Conceição Tavares, Paul Singer e Aloizio Mercadante, martelaram a tecla de que se tratava de jogada eleitoreira. Não quiseram ver que se tratava de um esforço sério de reconstrução nacional, que aproveitou uma oportunidade de ouro para inovar práticas de gestão pública e dar outro rumo ao País”. Aqui FHC não esclarece que os economistas do PT dirigiam suas críticas não ao Plano Real em sua essência,mas sim à instrumentalização do plano.

Faz-se necessário esclarecer ao leitor algumas coisas. Primeiramente, o Plano Real não foi uma invenção de FHC: o Real e o Cruzado tiveram uma mesma base teórica, que foi a Proposta Larida,de 1982, feita a partir da tese de pós-doutorado de Pérsio Arida no MIT (Massachussets Institute of Technology), nos Estados Unidos. Contudo, o Cruzado pecou em dois aspectos: o primeiro deles em não criar uma unidade monetária de transição (como feito posteriormente no governo Itamar, com FHC no Ministério da Fazenda); e o segundo, criar um mecanismo de gatilho salarial, que serviu para retroalimentar a inflação no país.

Devemos esclarecer também que o Real foi instrumentalizado utilizando-se a política cambial para conter a inflação: instituiu-se a paridade, fixando-se o câmbio como forma de assegurar o controle de preços. E aqui neste ponto estavam as críticas dos economistas, já que os efeitos dessa medida artificial poderiam ser desastrosos para a economia (como quase foram, de fato). A política de câmbio fixo segurou a inflação? De fato, enquanto o governo conseguiu controlar a paridade cambial, a inflação se manteve sob controle. Mas houve um momento em que o governo não conseguiu mais conter o câmbio.

E o que aconteceu então? Houve a maxidesvalorização do real frente ao dólar, em janeiro de 1999, como previsto por muitos economistas cinco anos antes. Nesse momento, FHC se viu obrigado a adotar o câmbio flutuante e passar a adotar o instrumento correto – e que deveria ter sido usado desde o início do real – a Política Monetária. Como a inflação aqui já estava extremamente elevada, a equipe econômica se viu obrigada a iniciar um ciclo de aperto monetário – foi o período em que o Brasil teve inflação alta, juros altos, arrocho salarial e desemprego.

E o que FHC não diz no seu artigo é que esse ciclo só foi revertido em 2003, no governo Lula. Graças à equipe econômica de Lula – que tinha, na época, como protagonistas o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci e o presidente do Banco Central Henrique Meirelles – o Brasil conseguiu reduzir a inflação, trazendo-a de volta à casa de um dígito. Não foi, portanto, a política econômica de FHC – baseada na artificialidade cambial – que reduziu definitivamente a inflação no Brasil, mas sim a política econômica de Lula, baseada na política monetária.
por Leandro Paterniani, no Boteko Vermelho, "
Repito: Isso é parte do texto. Bem que eu gostaria de comentar sobre Estado mínimo, eficiência, privatização, etc... Mas eu ia ser muito extenso eesse trecho despertou mais minha raiva hehehe. O que eu tenho a dizer sobre ele:

Primeiro, claro que o Plano Real não foi obra do FHC. Ele inclusive assume isso em um documentário sobre a hiperinflação brasileira : http://www.youtube.com/watch?v=A95_Dhsbp4g&feature=related

Cada macaco no seu galho, e o dele é sociologia e política.

FHC, assim como a maioria dos presidentes americanos (que na maioria dos casos, escuta o que os economistas têm a dizer sobre a economia), ingleses, alemães, etc, foi a parte política do plano. Só. Atrás dele havia uma equipe econômica.

Segundo, em vez de diminuir o feito dessa equipe que tratou de controlar um “bicho” que 20 anos depois vira exemplo de livro, dou meus parabéns a ela e a quem a geriu, pois aprendeu com o erro e estabilizou a economia, apesar dos grandes efeitos colaterais. Até aí, nada demais...

Mas o quarto e o quinto parágrafo, não deu para segurar!

Deixando de lado um pouco as teorias monetárias e cabiais, como todo jornalista sabe, houve, em 97, uma crise na Ásia e, em 98, uma crise na Rússia (muito com relação aos efeitos que a “pirotecnia” econômica de esquerda defendida até hoje pelos economistas/sociólogos do PT passavam o tempo todo martelando...) que abalou o mundo e, principalmente, os países emergentes, no caso, Brasil.

Eu sei que cambio fixo está passível de especulação. Eu sei e, com certeza, PhDs de Harvard e Princenton também sabiam e por isso o câmbio fixo era transitório. Agora, com a Rússia quebrando, quem seria o próximo alvo de ataques especulativos? O Brasil!

Então a equipe usou o que os meus manuais de economia (escritos provavelmente pelos seus professores por ali) contam: Contra uma especulação estrutural, não há que defender o cambio por muito tempo, o melhor é flexibilizá-lo, deixando que a taxa suba e não seque as reservas do Banco Central (No nosso caso, em grande parte fruto das privatizações e dívida pública). Assim foi feito, e assim o Brasil não quebrou como a Inglaterra em 1993 no famosíssimo caso de George Soros X Londres...

Depois, a política de estabilização não só utilizava o câmbio, como também os juros e a redução dos gastos públicos. É daqui que vem as “surras” em investimento, gastos sociais, etc, que o governo FHC leva do governo Lula.

Resumindo, uma hiperinflação para controlar e 2 crises mundiais. É como diria meu amigo argentino, querer comparar, nesse sentido, Pelé com Maradona, não dá.

Agora a maior graça de todas é um texto feito por um socialista para defender o governo Lula dizer que a Política Monetária é a que era a correta...

Fala sério. Primeiro de tudo é que política monetária para efeito de estabilização econômica é tese de Milton Friedmann. Milton Friedmann é um dos maiores nomes da economia mundial e principal representante da Escola de Chicago que, tradicionalmente, é... tcharamramram... a mais NEOLIBERAL das universidades americanas!!! Ou seja, nunca que os economistas do PT iam defender isso... Até hoje!!! Ou alguém já ouviu algum deles falar sobre isso??? Professora Conceição da Unicamp e UFRJ, Aloísio Mercadante, Guido Mantega, todos representantes da escola heterodoxa que foge como o diabo da cruz de Milton Friedmann (e de Mario Henrique Simonssen, também citado pelo texto...).

Segundo que, na linha seguinte, o autor diz que foi usada política monetária... e pior, agora criticando os efeitos (em parte dito acima) que são amplamente conhecidos na academia e amplamente defendidos como um remédio amargo que se deve tomar, como fez a Alemanha, por exemplo, respeitado os contextos de cada um.

Repito: Nada disso foi criado por FHC.

Finaliza, finalmente da forma correta, exaltando a equipe econômica do presidente Lula. E eu digo: Parabéns presidente Lula, o senhor soube escolher as pessoas certas e pôs nas cadeiras mais importantes, personagens que compartilham das idéias modernas e sensatas da Economia, e não os economistas do PT.

E aqui cabe como uma luva o ditado: “Quando a Economia vai bem, tudo vai bem...”

Em tradução livre, Brasil decola.

Em tempo 1: Alguém aqui sabia que Henrique Meirelles foi presidente mundial do “mega banco representante do imperialismo norte-americano” Citibank?! Assim como “a raposa tomando conta do galinheiro”, como era chamado Armínio Fraga por ter trabalhado para George Soros...

Em tempo 2: Alguém aqui sabe o que a escola que, de origem (será que só de origem?), pertenceu Guido Mantega fala sobre as idéias que ele está pondo em prática?

Não vou dizer que é uma piada, nem vou insinuar má fé (como é moda de esquerda); desconhecimento de causa, apenas.

O Brasil, em um bom ano das principais escolas de Economia do país (FGV-Rj e PUC-Rj), manda 5 alunos para as escolas top americanas (Harvard, MIT, Princenton, Chicago...). Não suficiente a dificuldade de estudar lá (que ninguém contesta quando se fala de Medicina, Direto, Física, Biologia...) os caras se destacam, e até hoje são citados. Inclusive aqui na Espanha. São gênios! Aí me vem esses jornalistas Zé Ruela falar besteira.

Emite nota criticando FMI, e não tem a menor noção de qual a função dele (mas como eu sou burro! É óbio: Favorecer os interesses imperialistas norte americanos! Olha só onde é a sede!!!).

Em tempo 3: Enquanto falam besteira, Armínio Fraga é dono de um fundo de investimento que tem fila de estrangeiros para ser cliente e é o gestor (ou era até ano passado) do fundo soberano da China (maior detentor de dívida pública americana no mundo).

Eu: “O atual presidente do BC talvez saia como candidato a Governador...”

Professor: “Não sabia que o Armínio era envolvido com política”

Eu: “Não, não é. O presidente é Henrique Meirelles.”

Professor: (cara de “COMO assim não é ele???”)

...

4 comentários:

  1. Obrigado pela confiança!

    E só esclarecendo: eu também concordo que jornalistas não deviam meter o bedelho em Economia. Blasfeme o Joelmir Beting; foi ele que começou com tudo isso.

    Mas sabe qual é o problema? É o problema de todo jornalista, e o desafio diário da gente que passa o dia em uma redação: tentar simplificar as coisas, sem usar jargões ou termos técnicos demais. Aí que o jornalista peca.

    Enfim, anyway, o diploma não é mais obrigatório mesmo...

    Abraço, cara :D

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  2. Yuri,

    Contraponto acadêmico discutível. Vou utilizar trechos do seu blog...

    Yuri diz:
    "FHC, assim como a maioria dos presidentes americanos (que na maioria dos casos, escuta o que os economistas têm a dizer sobre a economia), ingleses, alemães, etc, foi a parte política do plano. Só. Atrás dele havia uma equipe econômica."

    Porque então no governo tucano em que Serra foi ministro, o país quebrou duas vezes e precisou ir de pires na mão ao FMI?

    Onde estava a ekipeconomica (os gênios)?

    Deixar o país quebrar duas vezes foi somente um efeito colateral?

    Papai

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Não. Para piorar os efeitos colaterais, uma tensão principalmente nos mercados emergentes, marcada por vários ataques especulativos, sobrecarga sobre os créditos internacionais, taxa de juros necessariamente alta "comendo" todas as economias de gastos (que eram muitos e ineficientes)...

    São muito competentes. Mesmo com um cenário desse, com o MUNDO inteiro sofrendo inestabilidade, adaptaram ao Brasil as regras que norteiam todos os países sérios hoje. E o Brasil está entre eles (Essa semana saiu outra reportagem, agora no El Pais, exaltando o Brasil).

    As bases foram tão boas que o PT rasgou anos de discurso, deixou na geladeira os principais economistas do partido, e adota a MESMA política economica. É a mesma. Igualzinha.

    E eu não vou diminuir a decisão acertada do Lula. Mais de 10 anos com a mesma política, estabilidade no BC, credibilidade conquistada nos mercados (mesmo depois de, no auge da eleiçao dele em 2002, o risco país ter ido para o espaço... Por que será?), e o BC anuncia previsão de crescimento de 10% do PIB no primeiro trimestre.

    Em tempo: Dilma, adaptando o discurso de anos atrás, elogia postura de alta dos juros para combate da inflação do BC. Serra, querendo fuder com a credibilidade tão dificil do BC, critica o exagero... Eita país estranho!!!

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