terça-feira, 5 de julho de 2011

Se eu começasse de novo.

Ontem foi a “minha colação de grau”. Escrevo assim, entre aspas, para expressar um certo desconforto em receber os parabéns que eu ainda não mereço. Concluo o curso no final do ano, mas acabei entrando no bolo de 6 turmas (noturno e diurno dos semestres 2010.2, 2011.1 e 2011.2) para termos número suficiente para uma festa de formatura. Eu poderia ter escolhido fazer administração, mas não quero começar agora minhas arengas.

Esse final de semana li um livro, e como se já não bastasse Yuri lendo um livro, li todo em um dia. Cartas a um jovem economista, escrito por ninguém menos que um dos PhDs fodões de post anterior: Gustavo Franco.

Estilo simples, objetivo, com uma narrativa que suga toda tua atenção, aquelas arengadas que todo economista que entendeu a matéria gosta de dar em jornalistas, administradores e principalmente, os sociólogos, digo, economistas de esquerda. Gustavo Franco conta suas experiências como aluno de graduação e pós-graduação, professor e pesquisador, player do mercado financeiro nos dois lados do balcão como diretor e presidente do BC e como investidor. Sem exagero, todo aspirante, estudante e recém formado em Economia deveria ler.

Mas e aí, qual é o valor adicionado ao meu capital humano? Primeiro, discordo da sugestão dele de trabalhar a serviço do setor público o tempo que passou sendo custeado pelo Ministério da Educação. Eu não me sinto em dívida, porque meu pai pagou de impostos muito mais que os 600 e pouco que custaria o curso na Unifor, então foi apenas a contrapartida do Estado e o troco fica para ajudar outros colegas. Além do mais, para trazer à sociedade um retorno que teoricamente eu sou devedor, trabalhar no Governo não é nem condição necessária, nem suficiente, visto a cambada de picareta que estraga todo o esforço dos bons por lá.

Segundo, ele deseja a felicidade de pegar, folhear e jogar para cima um trabalho que podemos dizer que é nosso. Resultado: somando isso com a minha impregnação com alguns professores, eu estou pensando seriamente em mudar o tema da minha Monografia. Ainda que tenha dado um trabalho do caralho levantar toda a base de dados e fazer o projeto, não sinto o tema como meu; foi sugerido pelo orientador. Vamos ver, porque eu já dediquei muito tempo nele.

Por último, me fez pensar no curso como um todo e depois de ontem, é o momento perfeito para conclusões. Quer saber? Eu vou começar logo é pelos professores e torcer que eles continuem tão absolutamente ocupados (em fumar) e importantes o suficiente que não se dêem ao trabalho de ter chegado até aqui. O que obviamente é o que vai acontecer. Então, foda-se.

Bem direto: muito estrelismo para pouco resultado. A grande maioria ali é forte candidato ao Nobel mesmo que não publique em nenhuma revista internacional relevante há algum tempo. Eu realmente estou de saco cheio dessa pose. Pose. A outra metade está presa no passado (falido), dependente das disciplinas defasadas há uma década porque não sabem imaginar outra coisa a não ser um mundo divido entre burguesia imperialista e proletariado explorado (simples assim). Conferem ares “científicos” à panfletagem partidária, se esgoelando pela atenção dos também crentes na grande teoria da conspiração, no colapso (dessa vez final, desde 1800 e sei lá) do capitalismo, discos voadores e todas essas claras manifestações que emergem da natureza explorada do trabalho frente ao capital, uma convenção socialmente imposta que cega o proletariado fazendo uso do fetichismo da mercadoria... Acho que deu pra entender o lenga-lenga que a gente é obrigado a escutar. Não é de se espantar a resistência à uma modernização da grade curricular.

Quase imperdoavelmente, coloco todos em dois sacos, assumo. No entanto, fui treinado para análises de pontos sobre a curva, de forma que exceções são pontos fora dela, mas, felizmente, existem. São mais que os dois abaixo, mas esses dois merecem destaque.

Começo pelo professor Ronaldo Arraes: um excelente professor. Incrivelmente intuitivo, objetivo, rápido... De todos os professores que eu tive, ele é o dono da melhor aula, com folga. Se eu começasse de novo, faria o curso de Estatística II exatamente com a mesma pessoa. Agora, claro, Maria Isabel de Araújo Furtado. Engraçado que eu sempre tive excelente relacionamento com os professores “mais difíceis” da faculdade (tirando o lunático discípulo de Marx) e se fosse feita uma enquete sobre os mais carnes de pescoço, Bebel estaria no topo. Mas é uma baita injustiça. Uma mulher de quem eu discordo de quase todas conclusões e, hoje, método de pesquisa, foi justamente a primeira a me introduzir na academia. Desenvolvi habilidades sob a supervisão dela que me foram muito úteis (principalmente na AIESEC), ganhei convicção no que penso e despertei para a carreira acadêmica; não tem a grana do mercado, mas tem lá suas virtudes bem pesadas também. Se eu começasse de novo, repetiria a experiência de monitor (inclusive do tempo voluntário) dela.

Atividades paralelas: não me arrependo do estágio, mas não faria de novo na época que fiz. Tomou muito tempo e principalmente energia dos estudos, mas, em compensação, ganhei uma graninha, uma experiênciazinha... Poderia ter feito mais para o final do curso (é tanto que a graduação da FVG SÓ permite no último ano!), isso teria sido o ideal. Sobre a AIESEC, definitivamente arrependimento não é a palavra certa, mas talvez eu tenha vivido além do ponto ótimo. É bom ver os membros que estão lá hoje, cheios de tesão, brilho no olhos, aquilo realmente é apaixonante e eu torço que faça a eles o bem que fez a mim. Se tem uma coisa que eu me orgulho de ter feito durante esses 5 anos, fundar e ser membro da primeira diretoria de uma organização premiada logo no seu primeiro ano e que hoje tem, sei lá, mais de 70 membros, é uma delas. Do meu intercâmbio, como já disse outro dia, deveria ter estudado menos, só isso.

Também fiz um monte de cagada que certamente mudaria. A primeira delas foi ter feito o vestibular para o curso noturno; caí numa turma altamente heterogênea em tudo, e as únicas homogeneidades eram o pouco tempo (e vontade) de se dedicar à faculdade e o interesse em ter um diploma de curso superior não importava qual e como, e cá entre nós, vestibular de economia é uma mãe. A segunda foi não ter adicionado a 5ª disciplina no segundo semestre para manter a carga horária da turma da manhã. Resultado: me matei de pagar cadeiras extras nesses últimos semestres para adiantar o curso e mesmo assim, me formo 6 meses depois que eles, cagada épica!

Me arrependo de não ter estudado tanto para as disciplinas quantitativas, em geral. Era o tempo da monitoria em Evolução das Idéias Econômicas e Sociais, e o tempo que eu passei lendo os livros de Maquiavel e Locke, poderiam ter tido maior utilidade. Diga você, é mais útil saber detalhes de um rabisco inicial do homem econômico ou dizer, formalmente, qual a estratégia maximizadora do retorno esperado? Tudo bem, coisa de freshman.

Agora, olhando para trás, talvez do que eu mais me arrependa foi de não ter estudado MUITA matemática desde o comecinho, como eu me arrependo! O pior é que no dia do meu trote (do meu trote!) um veterano disse: “Estuda matemática. Esse negócio de análise histórica não tem futuro, não.” Porra, parece que todo veterano diz isso e todo novato cai na tentação da molezinha de fugir daquelas derivadas e integrais... Puta que pariu, como eu me arrependo!

No mais, é isso. Falta só uma peinha de nada e o jeito é correr atrás do “prejuízo”. Ainda bem que o nosso sistema de seleção para o mestrado dá as mesmas chances a todo mundo. Agora é sentar com o aluno veterano mais escroto do mestrado e, dessa vez, escutar os conselhos de quem já sabe o caminho das pedras.